"Falsos Títulos" no Festival Política

Texto que acompanha a exposição:

Provavelmente já antes da invenção da imprensa o boato dava voz à falsa informação. 

Com os avanços de Gutenberg, a tipografia democratizou a palavra escrita, que passou a ecoar ideias com muito maior alcance. Os livros, jornais ou revistas que esta arte colocou ao serviço dos povos estão carregados de mentiras, tal como a internet de hoje em dia.

Sabemos que a utilização de uma palavra em detrimento de outras pode levar a interpretações completamente diferentes, sobretudo nos títulos de notícias que são lidos rapidamente e sem enquadramento ou profundidade. Mas não somos nós os tipógrafos, os responsáveis, porque as letras essas não mentem, é o sentido das palavras que mente, é o uso que fazemos das palavras que induz em erro e serve interesses. 

Propus-me trabalhar o tema da Desinformação, recorrendo criativamente da tipografia de caracteres móveis, uma técnica de impressão clássica centenária que está a cair em desuso.

Aqui se expõem sinónimos e antónimos, utilizados em diferentes contextos desde a imprensa a conversas informais, ora como rótulos depreciativos, ora adjetivos diplomáticos, ora considerações tendenciosas, ora títulos falsos.

Peguemos por exemplo numa notícia sobre um automobilista que colidiu com um utilizador de bicicleta, em Lisboa. 

Alguns títulos dirão que o utilizador de bicicleta sofreu um abalroamento, colocando a responsabilidade no automobilista. Outros títulos poderiam dizer que foi um acidente, desresponsabilizando os intervenientes e o contexto, e assumindo este acontecimento como inevitável. E outros títulos ainda poderão retratar o momento assinalando o desfecho de morte de um dos intervenientes, o que pode ferir suscetibilidades e causar medo na utilização da bicicleta. 

Aqui a escolha da palavra a utilizar no título seria determinante para a interpretação da peça noticiosa, podendo até mudar-lhe o sentido. 

Este é um trabalho da autoria de Rui Sebastian, com o imprescindível apoio de João Sebastian. Juntos somos a Tipografia do Papeleiro Doido, que quer afirmar-se como um projeto e um espaço de experimentação artística, social e ambiental.